sexta-feira, 21 de março de 2014

Depravação Total e Evangelização

Por Morgana Mendonça Santos

Romanos 1.16 - "Porque não me envergonho do Evangelho, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego."

O leitor pode achar estranho esse título, fazendo tal junção, doutrina e ordem. Antes de ser algo como é chamado por muitos doutrina calvinista ou teologia reformada, isso é uma verdade bíblica. Seguindo nosso caminho de volta às Escrituras no que se diz respeito a evangelização bíblica, observaremos como é importante fundamentar nossa evangelização na Soberania de Deus. Uma marca distintiva da evangelização bíblica, primitiva, é a verdade sobre Deus: atributos e obras. Precisamos conhecer quem é o Deus que nós pregamos, pois isso resultará na forma que proclamaremos o Evangelho.

O Apostolo Paulo em Atenas, no livro de Atos capítulo 17, lança o alicerce da sua evangelização no conhecimento de quem é Deus, observe:

Atos dos Apóstolos 17.24-31 - "O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; nem tampouco é servido por mãos humanas, como se necessitasse de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas; e de um só fez todas as raças dos homens, para habitarem sobre toda a face da terra, determinando-lhes os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem a Deus, se porventura, tateando, o pudessem achar, o qual, todavia, não está longe de cada um de nós; porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois dele também somos geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não devemos pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem. Mas Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam; porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos."

O quanto conhecemos de Deus irá reproduzir o método, o conteúdo da mensagem que iremos oferecer aos incrédulos. A nossa evangelização, a nossa comunicação do Evangelho precisa ser consistente com o que a Bíblia fala a respeito de Deus. Note bem que Paulo não precisou apelar, insistir ou causar barulho de clemência para que o povo viesse a Cristo. Precisamos fundamentar o nosso evangelismo nas Escrituras Sagradas. Precisamos conhecer Deus e de maneira simultânea pregar o Evangelho, as boas novas na consistência de quem Deus é, Seus atributos, Seu eterno poder e Sua obra Redentora.

A evangelização bíblica tem como característica também, o fato de considerar seriamente o estado do homem, a sua realidade. Uma marca dessa evangelização tem como alvo entender a condição real do homem e sua posição diante de Deus. O que a Bíblia ensina acerca do ser humano, todas essas doutrinas bíblicas acerca do homem precisam ser considerada na evangelização. Quem é esse homem? O Apostolo Paulo responde:

Romanos 3.10-18 - "Como está escrito: Não há justo, nem sequer um. Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo dos seus lábios; a sua boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Nos seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante dos seus olhos."

É necessário entendermos a respeito da Queda (Gn 3.6), o homem natural é o nosso alvo. A idéia que nós temos do homem, o seu estado e sua real condição deverá afetar fortemente a nossa evangelização no que se diz respeito a maneira da abordagem; o conteúdo da mensagem; o argumento proposto; o anúncio das boas novas. A nossa atitude na evangelização vai depender da visão apropriada e correta da situação do homem natural.

Romanos 3.23 "Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus"

A humanidade sem Cristo não está numa situação de inocência, nem neutra ou numa condição apenas defeituosa. A situação do homem é de morte, cegueira e nudez. Ele está depravado totalmente e é incapaz de levantar uma mão e decidir por Cristo livremente. A incapacidade humana para a reconciliação com Deus parte do pressuposto bíblico em relação a consequência da queda, no qual deformou o homem e a imagem de Deus nele foi de tal modo corrompida, em seu ser; sua moral, suas vontades. O defunto não pode ao menos reagir a sua condição de escravo cego do pecado.

Efésios 2.1 - "Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados"

A nossa evangelização precisa ser arraigada, centralizada, fundamentada nas Escrituras, entender a situação que se encontra o homem caído em Adão vai nos levar a forma bíblica para oferecer a solução para esse pecador, esse Evangelho que é poder de Deus para a salvação, daqueles que escolhidos irão crer.

Marcos 16.15 - "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura."

Essa criatura necessita do Evangelho, não de educação. A evangelização não pode ser um remédio, não pode ser uma entrega de receita. Esse homem não está parcialmente enfermo, doente temporariamente. Não é simplesmente exortar o homem a se conformar com o padrão bíblico, não é comunicar alguns preceitos bíblicos como se precisasse apenas de uma orientação psicológica. Evangelizar não é educar o homem, o estado desse indivíduo é de uma absoluta incapacidade e inabilidade, ele está morto, não consegue resolver a sua situação para com Deus.

Nossa evangelização não é romântica, não deposita nenhuma esperança no homem, precisamos comunicar o Evangelho de forma realista. O ser humano é necessitado espiritualmente, a solução do problema é a regeneração, o nascer de novo. Nossa evangelização deve ser seguida de súplicas, orando para que Deus faça conforme fez com Lídia:

Atos dos Apóstolos 16.14 - "E certa mulher chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que temia a Deus, nos escutava e o Senhor lhe abriu o coração para atender às coisas que Paulo dizia."

O trabalho do Espírito Santo (João 16.8), convencimento do pecado e a soberania Divina faz com que o coração de Lídia seja habilitado por Deus, notemos que foi somente o de Lídia naquele momento, no entanto a mensagem foi para todas as mulheres que ali estavam. Nossa tarefa como cristãos não é apenas comunicar verdades bíblicas, precisamos evidenciar com o nosso testemunho essas verdades e também suplicar a Deus pelos que ouvem a mensagem para que o Espírito Santo aplique nos corações dos que irão crer, esse Evangelho que é poder de Deus. Deus é o único responsável pelo resultado da missão, nós precisamos apenas ser fiéis.

1Coríntios 4.1-2 - "Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer nos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel."

A Graça e a soberania de Deus é altamente encorajadora para a evangelização. O evangelho deve ser pregado, pois não há outra maneira de crê para a salvação. Nesse momento da pregação, Deus fará cumprir a Sua palavra para com os Eleitos. Não é antropocêntrico, é teocêntrico, não é romântico, é realista. Somente o Espírito Santo pode operar no coração do defunto, vivificando-o e em seguida regenerando-o.

Como disse João Calvino no seu comentário em Isaías 2.3: “Nada pode ser mais inconsistente no que concerne à natureza da fé que aquela indiferença que leva um homem a desprezar seus irmãos e manter a luz do seu conhecimento... apenas em seu próprio coração”.

Marca de uma evangelização reformada! A Deus, toda Glória! Rm 11.36

quarta-feira, 19 de março de 2014

Missões Indígenas

 Paul David Washer 

Cumprindo a Grande Comissão

Como nós cumprimos a Grande Comissão? 
Há duas distintas estratégias de missões que nós devemos considerar. Elas são muito diferentes, mas não apostas. Nós não precisamos pensar que devemos usar uma em exclusão à outra. Ambas são viáveis em seu próprio direito e devem ser empregadas para cumprir a Grande Comissão. Estas duas estratégias são:

Uma estratégia de Missão Intercultural – Esta é a estratégia tradicional de fazer missões, pela qual os missionários são enviados para uma nação, grupo populacional, ou cultura fora de seus próprios. Exemplo: Uma agência missionária Norte Americana enviando e apoiando um missionário Norte Americano na Europa Oriental.
Uma Estratégia de Missão Indígena – Esta estratégia não envia missionários de uma nação, grupo populacional, ou cultura a outra, mas trabalha através de missionários que são nativos do país nos qual eles estão ministrando. Exemplo: Uma agência missionária Norte Americana providenciando suporte para um missionário Romeno para trabalhar na Romênia em meio ao seu próprio povo.

 Missões Interculturais

A Igreja tem uma longa e gloriosa história de missões interculturais. O apóstolo Paulo foi um missionário Intercultural em que ele saiu de fora de seu próprio povo, os Judeus, e fora de seu próprio país, Israel, e pregou o Evangelho aos Gentios. William Carey e Amy Carmichael na Índia, Hudson Taylor na China, e David Livingstone na África são exemplos de missionários transculturais.

Não é difícil ver que o trabalho da missão intercultural é indispensável à Grande Comissão. Como pode um grupo populacional que é totalmente sem o Evangelho vir a ter um conhecimento salvador de Cristo sem que missionários de outras culturas sejam enviados a eles? O apóstolo Paulo escreve aos Romanos 10:14-15:

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas.” (ACF)

Missões interculturais são bíblicas, históricas e necessárias aonde quer que exista um grupo de pessoas completamente desprovidos da mensagem do Evangelho ou aonde a Igreja ainda esta lutando para criar raiz em uma cultura ou grupo de pessoas. Em muitas áreas do mundo, hoje, há grupos inteiros de pessoas que não tem conhecimento de Cristo. Para que eles sejam alcançados, Cristãos devem deixar o seu próprio povo e terras e ir até eles, levando as Boas Novas.

Missões Indígenas

Após dois mil anos de atividade missionária, mais de metade do mundo ainda não ouviu o Evangelho. O método tradicional de missão de apenas treinar e financiar missionários Norte Americanos e da Europa Ocidental não é suficiente em si mesmo para alcançar o mundo. Não existem simplesmente missionários suficientes ou recursos econômicos disponíveis do Ocidente para alcançar todas as nações do mundo! A solução deste problema é apoiar indígenas ou missionários nativos para trabalhar dentro de seus próprios países e grupos de pessoas.

Como um resultado de dois milênios de trabalho missionário intercultural, há incontáveis milhões de Cristãos em todo o mundo. Dedicados a Deus, conhecedores das Escrituras, e com um zelo ardente pelos perdidos, eles muitas vezes sofrem grandes dificuldades, arriscando a vida e o bem-estar pessoal para pregar o Evangelho ao seu próprio povo. A estratégia missionária indígena ou nativa reconhece o valor e a utilidade deste grande corpo de crentes nativos e visa proporcionar a formação e o apoio financeiro necessário para que eles alcancem os seus próprios povos.

Como Isto Tudo Começou

Há muitos anos atrás eu estava servindo como um missionário no Peru, eu era uma testemunha do grande avanço do Evangelho por meio de muitos trabalhadores indígenas, apesar de sua severa pobreza. Eu comecei a orar e buscar nas Escrituras em relação a minha resposta apropriada a tais servos excelentes e suas necessidades. Em 3 João 1:5-8, eu encontrei um ensino constrangedor:

“Amado, procedes fielmente em tudo o que fazes para com os irmãos, e para com os estranhos, Que em presença da igreja testificaram do teu amor; aos quais, se conduzires como é digno para com Deus, bem farás; Porque pelo seu Nome saíram, nada tomando dos gentios.Portanto,aos tais devemos receber, para que sejamos cooperadores da verdade.” (ACF)

Como eu li por meio desta passagem, eu comecei a questionar a mim mesmo como esta admoestação poderia ser praticada. Poderiam os Norte Americanos enviar apenas missionários Norte Americanos em seu caminho de uma maneira digna de Deus? Era bíblico para Cristãos Norte Americanos e da Europa Ocidental ajudar missionários indígenas fora de seus próprios países e culturas? Poderia a abundância no Ocidente ser utilizada para auxiliar missionários indígenas em países e grupos pessoas menos prósperos?

Oposição e Respostas

Enquanto eu comecei a discutir esta ideia com outros missionários Norte Americanos, eu me deparei com alguma oposição. Eu frequentemente ouvi que se [aos] missionários indígenas fosse dado apoio econômico do Ocidente, eles poderiam tornar-se dependentes, ou isto poderia estragá-los, ou torná-los preguiçosos. Foram-me também dados muitos exemplos de missionários ocidentais que apoiaram missionários indígenas com pouco ou nenhum sucesso.

Enquanto eu, cuidadosamente, considerava as objeções e exemplos de fracasso, comecei a ver sérias falhas nos argumentos que haviam sido dados a mim. Primeiro, eu nunca ouvi um missionário Norte Americano falar para uma igreja para recusar suporte a ele porque tem receio que muito suporte pode torná-lo dependente, estragado, ou preguiçoso. Em segundo lugar, há muitos missionários da América do Norte e Europa Ocidental que são extremamente ineficazes, apáticos, e que nem sequer acreditam na autoridade das Escrituras. Devemos parar de enviar missionários para o campo estrangeiro simplesmente porque alguns são indignos? Em terceiro lugar, as incontáveis histórias de tentativas fracassadas colocaram a culpa exclusivamente sobre os missionários indígenas, mas não conseguiram ver as outras razões óbvias para o fracasso:

1. Aqueles que eram apoiados não correspondiam às qualificações de um ministro dadas a nós no terceiro capítulo de Primeira [Epístola a] Timóteo. Eles nunca deveriam ter sido apoiados, em primeiro lugar. O missionário estrangeiro que os apoiou estavam tão em falta quanto o desqualificado nacional. Por esta razão, as Escrituras nos advertem a não impor precipitadamente as mãos sobre ninguém (1 Timóteo 5:22).

2. Aqueles que foram apoiados não demonstraram a autenticidade de seu chamado. Eles não foram homens que eram diligentes em apresentar a si mesmos aprovados a Deus como obreiros que não têm do que se envergonhar, que manejam bem a Palavra da Verdade (2 Timóteo 2:15). Eles não estavam trabalhando na colheita anteriormente por uma promessa de auxílio. Eles eram mercenários que estavam relutantes em trabalhar na colheita sem que eles tivessem a promessa de apoio.

3. O missionário indígena era frequentemente contratados pelo missionário estrangeiro para agir como um servo a fazer a sua vontade. Eu tenho visto missionários indígenas que foram chamados por Deus para pregar o Evangelho reduzidos a nada mais do que um garoto da casa contratado para lavar o carro do missionário, limpar o pátio do missionário, e pegar as compras da esposa do missionário no supermercado.

4. Os missionários estrangeiros que supostamente tentaram apoiar os missionários indígenas negligenciaram o envolvimento com a igreja local. O missionário estrangeiro sozinho não tem o direito de convocar, aprovar ou enviar missionários. Este é o trabalho da igreja local e de seus anciãos. Eu achei interessante que a igreja local nunca realmente envolveu-se na maioria destes casos que falharam.

Enquanto eu estudava as tentativas fracassadas de apoiar missionários indígenas, eu comecei a observar que a culpa caía primariamente aos pés daqueles missionários estrangeiros e agencias missionárias estrangeiras que os aprovaram. A falha não era resultado do apoio a missionários indígenas, mas o resultado da violar incontáveis princípios bíblicos e o preconceito mascarado de alguns missionários estrangeiros que trataram os missionários indígenas como inferiores. Enquanto eu considerava as Escrituras, comecei a ver como as igrejas nas nações mais desenvolvidas podem apoiar missionários indígenas fora do Ocidente.

Missões Indígenas e a Igreja Local

Enquanto eu considerava o apoio a missionários indígenas, a única verdade que mantinha vindo à vanguarda era esta: As igrejas locais indígenas e seus presbíteros devem ser os protagonistas-chave na obra. Não é sábio apoiar missionários indígenas em um país, grupo de pessoas, ou área geográfica sem Deus abrir a porta da palavra por meio de pastores indígenas, igrejas locais, e/ou uma a comunidade de igrejas que tenham uma estabilidade e reputação duradoura (reputação nacional ou mesmo internacional).

O trabalho da HeartCry na Zâmbia é um excelente exemplo deste princípio. Conrad Mbewe da Zâmbia é um pastor altamente respeitado cuja reputação se estende muito além de seu próprio país. Ele e sua igreja são responsáveis por treinar os candidatos a missionário, ordená-los, enviá-los adiante, e mantê-los responsabilizados no campo. As exigências que eles impõem sobre os seus missionários e o grau de responsabilidade com que eles o mantém, de longe excede a maioria, se não todas, as demais agências missionárias de envio. Eles têm a experiência de treinar missionários, a persistência de trabalhar ao lado deles no campo, e a sabedoria e ousadia de mantê-los responsáveis. O que eles carecem são dos recursos financeiros que podem ser encontrados no Ocidente. A Sociedade Missionária HeartCry trabalha com homens como o Pastor Mbewe para prover o que é carente para que a Grande Comissão possa ser cumprida.

A necessidade de trabalhar por meio as igrejas indígenas locais e de seus presbíteros não pode ser exagerada. Muitos pastores e outros Cristãos interessados do Ocidente algumas vezes visitam os países do terceiro mundo e veem a pobreza econômica das igrejas e de seus ministros. Eles retornam às suas igrejas locais no Ocidente e entusiasticamente levantam dinheiro para apoiar os missionários indígenas que eles conheceram por apenas poucos dias.

Às vezes, isto funciona e o Reino de Deus progride, porém mais frequentemente, todo o empreendimento termina em desânimo. Poucos meses de correspondência começam a revelar o verdadeiro caráter do missionário. Ele não é tão qualificado, nem tão dedicado, e não tão altruísta como se supunha, a princípio. O Suporte do Ocidente não corrompeu o missionário indígena, mas isto simplesmente revelou que ele não era qualificado desde o início. O pastor do Ocidente errou em recomendar um homem que ele conheceu por apenas poucos dias e que ele não poderia manter-se responsável no campo.

Nós frequentemente falhamos em compreender que missões que devem ser guiadas pelos princípios encontrados na Palavra de Deus e não pelo entusiasmo, sentimentalismo, ou romantismo. Homens e mulheres poderiam ser apoiados apenas após cuidadoso e prolongado exame minucioso. Eles devem ter um testemunho sólido e uma forte reputação entre as igrejas e presbíteros que o conhecem melhor. Nós nunca devemos esquecer que um estrangeiro e mais fácil de iludir. Durante toda a história Americana, nós encontramos pessoas inescrupulosas que tem feito fortunas por enganar os imigrantes que vieram para cá de outros países. É uma simples verdade que qualquer um é mais suscetível à decepção quando vem para uma terra aonde a língua e cultura não são as suas próprias. Cristãos bem intencionados são frequentemente mais suscetíveis a tal decepção. Por estas razões e muitas mais, o apoio a missionários indígenas deve envolver as igrejas indígenas e presbíteros com reputações consagradas e dignas. É fácil para um candidato

Peruano enganar um Cristão Norte Americano por poucos dias, mas é quase impossível para ele enganar um grupo de pastores Peruanos bíblicos e cheios do Espírito que tem examinado a sua vida à luz das Escrituras por um período prolongado de tempo.

Questões Frequentemente Perguntadas

Nós temos visto as vantagens de enviar e apoiar missionários indígenas ou nativos. A seguir, consideraremos algumas questões frequentemente feitas:

1. Os missionários interculturais ainda são necessários no campo missionário?
Claro que são! A estratégia missionária indígena não elimina a necessidade de missionários interculturais. Esta não é uma situação se/ou, mas um ambos/e. Nós não estamos argumentando por uma moratória nos missionários Norte Americanos e da Europa Ocidental, mas plenamente reconhecemos a necessidade de mais milhares no campo! Nós simplesmente estamos buscando provar que a estratégia missionária indígena é igualmente viável, e em alguns casos, um método missionário mais efetivo.

. 2. Vocês estragarão o missionário nativo ao apoiá-lo com dinheiro Americano?
A primeira coisa que precisamos entender é que não há tal coisa como dinheiro Americano. Todo o dinheiro é de Deus. Se nós somos prósperos na América, é para que possamos sabiamente usar o que Deus nos deu para o avanço de Seu Reino. Em segundo lugar, o apoio dado aos missionários indígenas é ajustado de acordo com a renda média da população. Se a renda média em um país é de $ 150 dólares por mês, então, este é o apoio oferecido. O apoio que é recebido não fornece luxos, mas dá liberdade econômica suficiente para que o missionário possa trabalhar em tempo integral no ministério. Em terceiro lugar, nós não contratamos homens para que eles possam trabalhar no campo missionário, mas apoiamos homens que já têm dado a si mesmos para a obra e continuariam se eles recebessem ou não auxílio de fora. Em quarto lugar, nós achamos cômica esta objeção sobre estragar missionários nativos com um salário de $ 100 dólares por mês à luz do fato de que alguns conselhos missionários e denominações executivas nos Estados Unidos perfazem mais de $ 100.000 dólares em salário anual.

. 3. Por que as igrejas nestes países não apoiam os seus próprios missionários?
Esta é uma boa questão. O objetivo final é sempre que as igrejas em um dado país enviem e apoiem os seus próprios missionários, porém muitos países têm sido devastados pela fome, guerra e anos de corrupção política. Os Cristãos nestes países frequentemente sofrem inacreditável pobreza e sacrifício para pregar o Evangelho e plantar igrejas. O apoio de fora simplesmente ajuda-os com esta tarefa. No momento, em inumeráveis países ao redor do mundo, há uma multidão de homens e mulheres que trabalham 16 horas por dia para alimentar suas famílias com menos de $ 100 dólares por mês. Quando eles não estão trabalhando, eles estão pregando o Evangelho e plantando igrejas. O apoio do exterior simplesmente os habilita a investir 16 horas na obra do Senhor ao invés de em um fábrica!

. 4. Como um missionário nativo pode ser mais qualificado do que um missionário Americano com uma educação universitária ou seminário?
Isto depende do que você considera que sejam qualificações. Você mede um homem de Deus por um diploma de uma universidade, ou pelo conhecimento bíblico, piedade, poder do Espírito, e zelo? Em meus dez anos como um missionário no Peru, eu conheci missionários indígenas de quem o mundo não é digno. Aqueles eram homens que poderiam permanecer por horas e pregar enquanto sendo escarnecidos e espancados e terem urina de cabra jogada sobre suas cabeças. Eles poderiam pregar até que seus perseguidores se cansassem, sentassem, e ouvissem! Eu conheço homens de aparência desdentada, mendigos de sandálias de pés, e ainda assim eles começaram dez ou quinze igrejas. Um dos maiores exemplos de um missionário verdadeiramente qualificado é Angel Colmenares no Peru. Ele é um missionário indígena que tem sido usado por Deus em um movimento que deixou centenas de igrejas em seu rastro. Há muitos anos atrás eu solicitei a um amigo para acompanhar Angel e eu em uma conferência Bíblica entre o povo da montanha do Norte dos Andes. Ele aceitou mesmo embora ele tendo se programado para

viajar ao Brasil para participar de uma conferencia anunciada como “a maior reunião de mentes e estrategistas missionários na história da América do Sul”. Antes da Conferência Bíblica, meu amigo e eu acompanhamos Angel enquanto ele andava em meio a um depósito de lixo, à procura de uma bateria de carro descartada que ele esperava poder usar para alimentar seu microfone para pregação ao ar livre. Enquanto ele andava entre o lixo, meu amigo me olhou e disse: “Eu estava programado a participar de uma grande reunião de mentes e estrategistas missionários na história da América do Sul, mas aqui eu estou andando em volta deste lixo com você e este pequeno pobre homem que iniciou mais igrejas do que todos aqueles especialistas em missão juntos!”

Princípios Administrativos

Os mais importantes princípios que governam o relacionamento da HeartCry com as igrejas e missionários indígenas que nós patrocinamos são expostos nas seguintes declarações:
• HeartCry não trabalhará independentemente das igrejas indígenas no campo missionário ou de sua liderança, mas trabalhará em parceria com eles. Não é o propósito da HeartCry apoiar seus próprios “missionários HeartCry” em todo o mundo, mas auxiliar igrejas indígenas no envio de seus próprios missionários e plantação de novas igrejas.
• HeartCry se unirá com as igrejas indígenas e sua liderança na seleção de missionários. Nossos principais interesses na seleção de missionários são doutrina, piedade, chamado, e zelo.
• HeartCry proverá igrejas indígenas com os recursos necessários para apoiar missionários individuais por um predeterminado período de tempo. Após tal período, a vida e obra do missionário serão reavaliadas.
• HeartCry trabalhará com igrejas indígenas e seus presbíteros para determinar o apoio mensal para cada missionário. O montante de apoio será baseado no rendimento comum de cada país.
• Responsabilidade será a prioridade número um depois que um missionário é comissionado. HeartCry trabalhará em cooperação com a igreja de envio e seus presbíteros para supervisionar o missionário no campo.
• HeartCry buscará contribuir com o treinamento teológico e ministerial continuado dos missionários que patrocina. Isto será realizado por meio de coisas tais como Conferências Bíblicas, distribuição de literatura, e treinamento teológico por extensão.


. —————————— ♦ Extraído da Revista HeartCry, Volume 56 – Missão & Metodologia, 2008, Publicada em Fevereiro de 2008. ♦ Fonte: HeartCry Missionary Society ♦ Tradução: Camila Rebeca Almeida ♦ Revisão: William Teixeira

domingo, 16 de março de 2014

O BRASIL NÃO É MAIS UM CELEIRO MISSIONÁRIO



Conheci a Cristo no final dos anos 90. Minha experiência de conversão se deu em uma igreja batista recém-plantada na minha cidade. Meu batismo e minha experiência de discípulo começou no inicio do ano 2000, na igreja Assembleia de Deus. Eu vivi uma parte do movimento AD2000 (1) e da chamada  “Década da Colheita” (2), e de certa forma toda minha geração foi influenciada por estes movimentos.  Uma e outra vez, escutávamos a frase: “O Brasil é um grande celeiro de missionário”. Por nossa pequena igreja passavam alunos da “Missão Horizontes” falando sobre a janela 10/40 e sobre como o brasileiro gasta mais com Coca-cola do que com o Reino de Deus. Após o culto, nós doávamos aquilo que tínhamos para as missões. Lembro-me de um diácono pobre doando um relógio a um missionário que havia perdido o seu em uma viagem de barco na Amazônia. Lembro-me também de um amigo que constrangido pela necessidade da obra e sem nada para doar, tirou dos pés um par de tênis Nike e colocou sobre o altar, voltando para casa descalço depois do culto. A gente dava o que tinha, e não era por causa de alguma promessa de retorno financeiro (como nas campanhas dos televangelistas atuais), mas simplesmente por amor e desejo de ver o evangelho avançando entre as nações da terra. Os jovens da igreja (e eu era um deles) eram muito ativos: organizavam jograis e teatros com temas missionários, e muitos de nós queríamos ser pastores ou missionários. Hoje, vários daqueles jovens com os quais cresci são pastores, evangelistas, missionários, obreiros em suas igrejas locais, e estão envolvidos de alguma forma com a grande comissão.

UMA IGREJA QUE RESPIRAVA MISSÕES

Mas eu não consigo escrever este texto sem lágrimas nos olhos. Agora mesmo, sinto o peito doer e meus olhos se enchem de água ao me lembrar daqueles dias quando a gente vivia de maneira tão intensa, organizávamos vigílias, acampamentos de oração, visitávamos, evangelizávamos de verdade. Conheço um jovem em Cristo que aos 16 anos tinha uma rotina invejável: Ele fazia semanalmente visitas no hospital da nossa pequena cidade, e saia dali direto para o asilo contrabandeando doces e bíblias para os anciãos com quem passava parte do seu domingo. Por volta das 4 horas da tarde saia dali com outros meninos da sua idade, numa kombi velha da wolksvagen para realizar visitas em uma comunidade rural e "cooperar" com os irmãos de lá. As vezes a Kombi não vinha, e eles faziam o trajeto de 18 quilômetros de bicicleta. Quando chegavam a cidade novamente, era para tomar um banho e ir ao culto, ansiosos por ouvir a Palavra pregada e dispostos a participar, seja cantando, pregando, limpando ou fazendo qualquer outra coisa na igreja local. Durante a semana, ele e outros eram voluntários no “Desafio Jovem Liberdade” – centro de recuperação para usuários de drogas – muitas vezes saindo do trabalho direto para lá, para ensinar violão, passar algum tempo de comunhão com os internos e pregar no culto da noite. Esses rapazes respiravam missões.  

Na época, surgiam seminários com cursos rápidos, em média 2 anos, em regime de internato, onde a ênfase não era apenas preparar teólogos, mas obreiros. Trabalhavam-se questões como caráter, perseverança, domínio próprio, obediência, e grande parte das disciplinas do curso eram de viés missionário. Éramos confrontados com as biografias de William Carey, David Brainerd, Hudson Taylor, Adoniran Judson, George Miller, e nos inspirávamos neles. Criticava-se o modelo de seminário que formava apenas teólogos e falava-se muito em vocação ministerial. Escutávamos uma e outra vez que ser pastor é um dom e não uma profissão, e que o ministério é muito mais dar do que receber. O ponto alto das aulas era quando por lá passava algum missionário em transito, e contava as experiências vividas naquela terra desconhecida. Lembro-me de ter ouvido um desses missionários falando sobre o país dos Incas, e de como me senti desafiado pelo testemunho daquele jovem obreiro. À noite, enquanto orava por aquele país, discerni claramente a voz de Deus falando fortemente ao meu coração: “Eu te levarei ao Peru!”. Cai em pranto, sentindo um misto de temor e imensa alegria, pelo peso da responsabilidade e pela honra recebida. Sai do meu país em 2003, quando ainda se vivia a ressaca destes movimentos.

JOVENS QUE NÃO ALMEJAM O MINISTÉRIO

Hoje a igreja evangélica definitivamente não é a mesma. Ela nem sequer se parece com aquela igreja de 15 anos atrás. Cada vez que viajo ao Brasil, fico absorto com a secularização cada vez maior da igreja. Vejo uma igreja rica, muito rica, mas tremendamente ensimesmada. Em círculos tradicionais e na ala pentecostal clássica, pouco se fala em evangelismo e missões. Já os neopentecostais distorceram o conceito de evangelismo e missões transformando a igreja em uma pirâmide e implementando visões celulares das mais absurdas, substituindo paixão missionária por obediência cega a um líder autoritário. Se antes os jovens desejavam o ministério, a geração atual foge dele. É comum ver rapazes de moças de vinte e poucos anos com altos salários, comprando carros importados, fundando empresas, empreendendo e ganhando muito dinheiro. Os pastores destas igrejas sofrem, pois tem que se desdobrar em mil ofícios para atender as necessidades do rebanho, já que ninguém quer se envolver no ministério e sacrificar as horas de descanso para cuidar das necessidades alheias. Alguns poucos ainda ousam se envolver com missões, mas raramente em tempo integral. Ao invés disso, doam parte das suas férias para servir em algum país exótico, e passam 4 ou 5 dias visitando alguma igreja local,  e o resto das férias em alguma praia paradisíaca do Índico ou do Pacífico. Não trabalham nada, mas tiram umas quinhentas fotos com crianças locais e chegam a suas igrejas com testemunhos fantasmagóricos acerca de como salvaram o mundo em seis dias e ensinaram os pastores e missionários locais a pastorearem suas igrejas. 

MISSIÓLOGOS DE INTERNET QUE NUNCA SE ENVOLVERAM COM MISSOES

O conceito de missão tem sido banalizado por uma geração hedonista mais preocupada com seus prazeres do que com glorificar o Cristo entre as nações. Para justificar sua falta de coragem para encarar o campo missionário, criam-se as mais distintas agencias missionárias, muitas das quais não enviam e nem sustentam nenhum missionário, dedicando-se apenas a recrutar voluntários para viagens de ferias, exatamente do tipo que mencionei no último parágrafo. Diga-se de passagem, o dinheiro gasto por uma equipe de voluntários de férias, se fosse doado integralmente a alguma missão séria que trabalhe entre os autóctones, daria para sustentar cerca de 10 obreiros durante um ano. Crer que 20 brasileiros em uma semana podem fazer um melhor trabalho que um obreiro nacional em um ano é um sofisma, mas parece ser este o pensamento predominante nessas missões recém-criadas no Brasil (as exceções conformam a regra).

Embora não estejamos mais tão engajados com missões transculturais, nunca tivemos tantos “ESPECIALISTAS” em missões! Meninos de vinte anos, com pouca ou nenhuma formação teológica, sem experiência de vida ou ministério e cujo maior esforço missionário foi falar de Jesus para o colega de classe, editam blogs e vlogs, dão opiniões e organizam conferencias missionárias onde eles mesmos são os preletores. Recentemente um desses palpiteiros da internet, um garoto de 20 anos, escreveu um livro sobre missões. Muita gente elogiou a atitude do rapaz e não encontrei ninguém, nem mesmo entre a velha guarda evangélica (que também é ativa nas redes sociais) para colocar freio na arrogância do moleque que escreveu suas 120 paginas sobre um assunto que ele nunca experimentou de fato. Há algum tempo recebi duas equipes de voluntários na cidade de Piura, onde desde 2008 temos desenvolvido alguns projetos missionários. Um dos rapazes que nos visitou, ainda nem tinha barba no rosto, mas logo se apresentou como consultor em missões. Segundo ele, varias igrejas no Brasil contam com seus conhecimentos de consultoria. Isso me parece estranho, se considerarmos que ele nunca foi missionário de fato, apenas participou de algumas palestras com ênfase na famigerada e pouco eficaz Missão Integral (3). Recebi deste garoto que nunca fez missões, diversos conselhos sobre como treinar meus obreiros e torná-los mais efetivos. Outros chegam já satanizando a cultura, tendo visões esquisitas acerca de demônios territoriais e correntes que estão aprisionando nossa igreja e missão, algo muito esquisito e sem bases bíblicas em minha opinião. 

UMA JUVENTUDE QUE QUER ENSINAR, MAS NÃO SE PRONTIFICA A APRENDER

Durante os dois últimos meses visitei varias igrejas no Brasil e por onde passei, desafiei pessoas para virem ao campo missionário no Peru, e o máximo que consegui foram uns garotos meio-hippies dispostos a vir salvar o mundo em uma semana e ensinar os pastores a pastorear suas igrejas. Todos os rapazes com quem falei queriam vir e ditar seminários, palestras, conferências, treinamento para pastores, e não atentavam para o ridículo das suas propostas, já que eles mesmos nunca pastorearam nem suas próprias famílias. No entanto, nenhum deles se mostrou disposto a passar ao menos um ano trabalhando de forma sistemática e fiel junto aos nativos, participando da vida, da luta e das dores do povo, compartilhando a comida e vivendo a verdadeira essência da missão. Todos queriam ensinar, ninguém estava disposto a viver. Todos queriam vir e impor; ninguém estava disposto a vir, viver e receber. Todos queriam formar obreiros, ninguém queria ser formado como obreiro. Todos queriam vir correndo e voltar; ninguém estava disposto a vir e permanecer. Cada um tinha uma visão diferente para a igreja peruana, mesmo sem ter conhecido de perto este campo missionário. Todos tinham receitas exatas para fortalecer o ministério local, mas ninguém queria servir no ministério. Muitos reis, nenhum servo. Como diria o pastor Kolenda, de saudosa memória, simplesmente “muito cacique para pouco índio”.

UMA IGREJA SECULARIZADA QUE NÃO AMA MISSOES

Não posso dizer exatamente onde foi que a igreja errou (não se preocupem, deve ter algum conferencista de vinte anos capaz de decifrar este mistério!). Porém, mesmo sem saber exatamente, acredito que alguns fatores são visíveis e fáceis de discernir: economia estável, bons empregos, oportunidade de fazer duas, três, quatro faculdades, anos de pregação antropocêntrica que exclui o sacrifício como parte da experiência cristã, tudo isso contribuiu para uma horrível secularização da igreja. Se eu fosse dispensacionalista, não teria dificuldade em aceitar que a igreja está vivendo a “Era de Laodicéia”. A igreja de Laodiceia e a igreja brasileira são irmãs: As duas são ricas materialmente, ensimesmadas, autossuficientes. As duas estão corroídas pelo pecado, empobrecidas de galardão e cegas quanto a sua real situação.  Se há algumas décadas dizia-se que o Brasil era um celeiro de missões, hoje tenho certeza que este título deve pertencer a algum outro país: China, Índia, Coreia do Sul, talvez... Mas definitivamente, esse título já não se pode aplicar ao Brasil.

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Leonardo Gonçalves é missionario há 11 anos. Neste período ajudou a plantar e consolidar igrejas no Brasil, Argentina (Patagonia e provincia de missiones), e no norte de Peru. Desde 2008 vive na cidade de Piura, envolvendo-se na plantação de 7 igrejas autóctones. O Projeto Piura sustenta hoje 6 obreiros autoctones e ajuda a 60 crianças provindas de comunidades carentes do Peru.

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NOTAS:

1. O Movimento Ano 2000 (AD 2000) surgiu de uma reunião em janeiro de 1989, em Singapura, onde foi realiazada uma Consulta Global de Evangelização Mundial para o ano 2000 e Além. Esta consulta deu origem ao movimento denominado AD 2000, cujo enfoque eram os povos não alcançados da chamada ‘janela 10/40’.
2. A Década da Colheita foi o resultado de um encontro de líderes das Assembleias de realizado nos Estados Unidos, em 1988. Foram também estabelecidas metas bem claras para a AD no Brasil, para serem alcançadas até o ano 2000: (1) Levantar um exército de três milhões de intercessores; (2) Ganhar 50 milhões de almas para Cristo; (3) Preparar 100 mil obreiros dispostos a trabalhar na seara do Mestre. (4) Estabelecer 50 mil novas igrejas em todo o Brasil; e (5) Enviar novos missionários para outras nações.
3. Não é que eu me oponha totalmente a Missão Integral. Minha crítica a este movimento pode ser resumida em poucos pontos: (1) A terminologia Missão Integral é, por si, uma redundância. Se é missão cristã, deve ser integral, e se não for integral (no sentido de total), não é missão. (2) Os promotores da Missão Integral no Brasil parecem se inspirar mais no marxismo do que na Bíblia. Um dos líderes desse movimento chega a apresentar o comunismo como uma ideia bíblica de comunidade. Ora, confundir comunidade cristã com uma ideologia que foi responsável por milhões de mortes no mundo, incluindo muitos cristãos, é uma boçalidade. (3) O discurso da Missão Integral tem servido de plataforma política para ideias esquerdistas, e sua super-ênfase no social tem levado alguns a pregar um conceito que beira a salvação pelas obras, algo abominável do ponto de vista bíblico. (4) Nunca vi um leprosário criado ou mantido por adeptos da Missão Integral.