sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Construindo a fé racional - José Bernardo

O desafio de ser filho de crente

Como vimos no relatório SUPER20 da AMME e Salva Vidas, das pessoas que fizeram seu compromisso com Cristo na infância, 37,93% se afastou da fé, sendo que a maioria (63,6%) eram filhos de evangélicos e quase metade se afastou na adolescência. Daqueles que fizeram seu compromisso na adolescência 30,95% se afastou, sendo que mais da metade (53,84%) eram filhos de evangélicos e metade se afastou ainda na adolescência. Dos que se converteram na juventude, apenas 13,8% declarou haver se afastado e apenas cerca de 10% era filho de evangélicos. Esses dados referem-se apenas aos desviados que retornaram. Supõe-se que os números totais do desvio sejam ainda mais altos e mais tendentes ao desvio dos filhos de crentes.
Os filhos dos crentes, aqueles que se convertem como crianças e adolescentes, se desviam mais. Veja que, para conversões na juventude, o desvio é menor e o percentual dos filhos de crentes que se desviam é bem pequeno. Já para conversões na infância, quando a maioria dos filhos de famílias evangélicas aceita Jesus, há a maior taxa de desvio e o maior percentual de filhos de crentes desviados. Esse fenômeno é tão conhecido no meio evangélico, tão corriqueiro, tão comum, que muitos já o aceitam como normal e até ‘teologizam’ sobre isso: é necessário que o jovem cristão conheça o mundo para dar mais valor ao Evangelho, dizem. Isso é um absurdo!
Há algo errado em ser filho de crente? Há algum problema em se converter quando criança? É certo que não, muito pelo contrário, é um privilégio crescer na graça e no conhecimento enquanto se cresce na estatura. Então, qual a causa de tanto desvio? Essa parece ser uma questão apologética, mais especificamente uma questão de endo-apologia ou apologia interna. A observação nos leva a crer e, ainda que essa tese careça de mais pesquisa, já é bastante sólida, que há uma passagem na puberdade onde é necessária uma mudança na natureza da fé. Essa mudança deveria ser feita em um processo de questionamento e resposta.
O fato é que antes da puberdade, desde o nascimento, a criança desenvolve uma fé afetiva, baseada na imitação das pessoas com quem se relaciona afetivamente: os pais e os professores do culto infantil, por exemplo. Essa fé afetiva é muito válida e bíblica também: sustenta a criança em Cristo e na Igreja durante toda a infância. A partir do início da puberdade, porém, dos onze anos em diante, na média, o cérebro humano passa por uma mudança radical, desenvolvendo habilidades motoras inicialmente, logo seguidas das habilidades emocionais. O ambiente em que o adolescente vive também se amplia, se torna menos afetivo, mais competitivo, mais cheio de informação, questionamento e dúvida. A fé afetiva da infância já não é suficiente, agora é necessária uma fé racional, capaz de responder a qualquer pessoa que lhe pedir razão da esperança que têm. Essa fé racional se desenvolveria em dois estágios: a) fé argumentativa, na adolescência recente; b) fé experiencial, na adolescência seguinte.
Como essa fé racional se desenvolve a partir do questionamento, pessoas que se convertem na adolescência e na juventude, vindas de famílias não evangélicas, tem mais chances de passarem por esse processo e achar as respostas que construirão uma fé suficiente para mantê-las através da adolescência, juventude e pela idade adulta a dentro. Aos filhos dos evangélicos, porém, não é permitido o questionamento. Eles devem ser crentes, muitos já são batizados, não podem duvidar, não tem a quem perguntar. A dúvida seria vista como um sinal de fraqueza, é um tabú, então fica oculta, nunca é sanada e começa a produzir o efeito destrutivo que culmina no desvio. É urgente que a Igreja construa uma endo-apologia capaz de levar seus adolescentes e jovens ao verdadeiro culto racional. Essa será nossa melhor resposta ao desvio que afronta nossos filhos.
 Esse artigo é parte da apostila do aluno no Fórum Apolo teen/ Campina Grande – PB, programa da parceria AMME Evangelizar, ministério Salva Vidas e VINACC, a ser realizado de 16 a 21 de fevereiro, dentro da programação da 14a Consciência Cristã.
 

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