O
desafio de ser filho de crente
Como
vimos no relatório SUPER20 da AMME e Salva Vidas, das pessoas que fizeram seu
compromisso com Cristo na infância, 37,93% se afastou da fé, sendo que a maioria
(63,6%) eram filhos de evangélicos e quase metade se afastou na adolescência.
Daqueles que fizeram seu compromisso na adolescência 30,95% se afastou, sendo
que mais da metade (53,84%) eram filhos de evangélicos e metade se afastou ainda
na adolescência. Dos que se converteram na juventude, apenas 13,8% declarou
haver se afastado e apenas cerca de 10% era filho de evangélicos. Esses dados
referem-se apenas aos desviados que retornaram. Supõe-se que os números totais
do desvio sejam ainda mais altos e mais tendentes ao desvio dos filhos de
crentes.
Os
filhos dos crentes, aqueles que se convertem como crianças e adolescentes, se
desviam mais. Veja que, para conversões na juventude, o desvio é menor e o
percentual dos filhos de crentes que se desviam é bem pequeno. Já para
conversões na infância, quando a maioria dos filhos de famílias evangélicas
aceita Jesus, há a maior taxa de desvio e o maior percentual de filhos de
crentes desviados. Esse fenômeno é tão conhecido no meio evangélico, tão
corriqueiro, tão comum, que muitos já o aceitam como normal e até ‘teologizam’
sobre isso: é necessário que o jovem cristão conheça o mundo para dar mais valor
ao Evangelho, dizem. Isso é um absurdo!
Há
algo errado em ser filho de crente? Há algum problema em se converter quando
criança? É certo que não, muito pelo contrário, é um privilégio crescer na graça
e no conhecimento enquanto se cresce na estatura. Então, qual a causa de tanto
desvio? Essa parece ser uma questão apologética, mais especificamente uma
questão de endo-apologia ou apologia interna. A observação nos leva a crer e,
ainda que essa tese careça de mais pesquisa, já é bastante sólida, que há uma
passagem na puberdade onde é necessária uma mudança na natureza da fé. Essa
mudança deveria ser feita em um processo de questionamento e
resposta.
O
fato é que antes da puberdade, desde o nascimento, a criança desenvolve uma fé
afetiva, baseada na imitação das pessoas com quem se relaciona afetivamente: os
pais e os professores do culto infantil, por exemplo. Essa fé afetiva é muito
válida e bíblica também: sustenta a criança em Cristo e na Igreja durante toda a
infância. A partir do início da puberdade, porém, dos onze anos em diante, na
média, o cérebro humano passa por uma mudança radical, desenvolvendo habilidades
motoras inicialmente, logo seguidas das habilidades emocionais. O ambiente em
que o adolescente vive também se amplia, se torna menos afetivo, mais
competitivo, mais cheio de informação, questionamento e dúvida. A fé afetiva da
infância já não é suficiente, agora é necessária uma fé racional, capaz de
responder a qualquer pessoa que lhe pedir razão da esperança que têm. Essa fé
racional se desenvolveria em dois estágios: a) fé argumentativa, na adolescência
recente; b) fé experiencial, na adolescência seguinte.
Como
essa fé racional se desenvolve a partir do questionamento, pessoas que se
convertem na adolescência e na juventude, vindas de famílias não evangélicas,
tem mais chances de passarem por esse processo e achar as respostas que
construirão uma fé suficiente para mantê-las através da adolescência, juventude
e pela idade adulta a dentro. Aos filhos dos evangélicos, porém, não é permitido
o questionamento. Eles devem ser crentes, muitos já são batizados, não podem
duvidar, não tem a quem perguntar. A dúvida seria vista como um sinal de
fraqueza, é um tabú, então fica oculta, nunca é sanada e começa a produzir o
efeito destrutivo que culmina no desvio. É urgente que a Igreja construa uma
endo-apologia capaz de levar seus adolescentes e jovens ao verdadeiro culto
racional. Essa será nossa melhor resposta ao desvio que afronta nossos
filhos.
Esse
artigo é parte da apostila do aluno no Fórum Apolo teen/ Campina Grande – PB,
programa da parceria AMME Evangelizar, ministério Salva Vidas e VINACC, a ser
realizado de 16 a 21 de fevereiro, dentro da programação da 14a
Consciência Cristã.
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