quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Ser discípulo x Ser gospel




por Morgana Mendonça Santos


"Porque o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca, e com os seus lábios me honra, mas o seu coração se afasta para longe de mim e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, em que foi instruído" 


Isaías 29.13

No dicionário Aurélio encontramos o significado da palavra "discípulo": 1. Aquele que recebe disciplina ou instrução de outro, aluno. 2. Que segue as ideias, imita os exemplos de outro. Na Bíblia, vemos a relação de Cristo com os seus seguidores. Na sociedade grega antiga, ser discípulo era a descrição de um aluno ou aprendiz de um homem sábio. Uma pessoa que buscava conhecimento, sabedoria e se submetia a um talentoso professor. A definição no Novo Testamento é dado por aquele que crê em Jesus Cristo e por conta disso gasta o restante da sua vida seguindo os meios de Graça. Discípulo é aquele que submete cada área da sua vida ao Rei e nenhuma área de sua vida é excluído da Sua autoridade. Encontramos no Novo Testamento apenas três vezes os seguidores de Cristo sendo chamados de cristãos (At 11.26, 26.28 e 1Pe 4.15-16), começando em Antioquia quando Paulo e Barnabé estavam lá. (Atos 11.26) Porém o termo "discípulo" é encontrado diversas vezes nas Escrituras. Podemos assemelhar o termo “discípulos” com o termo “cristãos”.

O significado da palavra "gospel" (inglês), que quer dizer em português "evangelho" ou "evangélico" vem do estilo cantado pela comunidade negra dos EUA, fazendo uma mistura de conceitos cristãos e devoção popular. Esse conceito vem a cada dia sendo firmado numa falta de compreensão sobre aquilo que é santo e profano. Ser gospel é ser Cristão? Porque ser cristão é ser discípulo de Cristo. Notamos hoje não o significado primário do movimento gospel, observamos tudo sendo inflamado pelo conceito moderno de "ser gospel". O que vem afinal a ser isso? Ser um moderno cristão ou ser um cristão contextualizado? Hoje em dia notamos o termo para tudo, a música é gospel, o site de relacionamento para encontrar o seu amado é gospel, a "ficada" é gospel, a inveja é gospel, a boate é gospel, o bloco carnavalesco é gospel, já existe até comentários de filmes de pornô gospel, o fuxico é gospel, a moda dos artistas é também gospel e por aí vai...

"E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; Em vão, porém, me honram, Ensinando doutrinas que são mandamentos de homens"

Marcos 7.6-7

O profeta Isaías, citado pelo próprio Cristo, nos evangelhos (Mt 15.8-9), vem nos trazer uma imagem da realidade hipócrita, da falsa adoração e espiritualidade em que o povo estava sujeito. Jesus advertindo os fariseus e os escribas contra o mesmo falso cristianismo, que precedia das tradições humanas e não da obediência fiel aos mandamentos divinos. Uma classe de "gospeis", que em vão adoravam ao Senhor, os seus lábios pervertidos causavam náuseas e os seus corações não tinham fundamentos em Cristo, uma pratica incoerente com o que se falava. Ser gospel é não ser cristocêntrico e sim antropocêntrico. É totalmente necessário causar essa exposição das diferenças que existe hoje em nosso meio. Parece que há muito tempo virou moda no nosso país o "ser gospel", invertendo e enfraquecendo o conceito no qual define o ser cristão: discípulo de Cristo. Ao meu ver, precisamos ser radicais, ao defender a fé com coragem (Jd 1.3). Precisamos refletir a imagem de Cristo (Rm 8.29) no nosso viver diário, creio que esse seja o caminho para colocarmos as diferenças em plena luz e sendo assim o mundo identificará que somos discípulos de Cristo (João 13.35). Não somos de Paulo, nem de Apolo (1Co 3.4-5), não somos “gospeis”, não temos orgulho por sermos católicos (já viu esse adesivo de carro?), não somos universais conforme o comercial da IURD*, somos de Cristo, somos cristãos e devemos ser verdadeiros seguidores conforme a semelhança do Mestre.

O teólogo John Stott, no seu último livro, que tem por título “Discípulo Radical”, explica o termo radical afirmando ser uma palavra derivada do latim "radix", que significa raiz. "Referindo-se aqueles cujas opiniões vão às raízes e que são extremos em seu compromisso. Juntamos então o substantivo com o adjetivo: Discípulo radical. com isso teremos um objetivo em nossa vida cristã" (pág.10). Continuando seu livro, ele expõe oito caraterísticas que precisamos ter como discípulos nesse mundo pós moderno: 1. o inconformismo, 2. a semelhança de Cristo, 3. a maturidade, 4. o cuidado com a criação, 5. a simplicidade, 6. o equilíbrio, 7. a dependência e 8. a morte. 

Não teríamos como - nesse meu pequeno texto - abordar todas a características. O autor destaca quatro tendências seculares que ameaçam subjugar a comunidade cristã, ele diz: "Diante do desafio do PLURALISMO, devemos ser uma comunidade de verdade, declarando a singularidade de Jesus Cristo. Diante do desafio do MATERIALISMO, devemos ser uma comunidade de simplicidade, considerando que somos peregrinos aqui. Diante do desafio do RELATIVISMO, devemos ser uma comunidade de obediência. Diante do desafio do NARCISISMO, devemos ser uma comunidade de amor" (pág.20). No entanto, esse ponto trata do inconformismo do cristão em relação ao mundo. Fica aqui uma indicação (e a reflexão) para que sejamos discípulos de Cristo nesse mundo cada vez mais “gospel”!

Precisamos ser uma igreja relevante e não uma igreja “gospel”. Uma igreja que tem alicerce e fundamentos de acordo com as Escrituras e não associada a influência mundana ou cultural. Uma igreja inconformada com esse mundo e não uma classe de "evangélicos" modernos relativizando tudo. Que fique no nosso coração arraigado as palavras de Cristo aos seus discípulos: 

"Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á" 

Mateus 16.24-25. 

Queremos ser discípulos do Senhor não o provocando a dizer: "E por que me chamais, Senhor, Senhor, e não fazeis o que eu digo?". Lc 6.46 Deixamos isso, para aqueles que se denominam "gospeis"! A Deus toda Glória.
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*Igreja Universal do Reino de Deus

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